Por Maria Fernanda Romero
Fotos Alice Perácio
MINAS PELA ESTRADA
Eu sou privilegiada e sei disso! Meu privilégio facilitou meu processo para viajar, mas conheci diferentes mulheres que viajam sozinhas, com diferentes tipos de vida e dificuldades, que encontraram diferentes formas para viajar. Viver na estrada não é possível para todo mundo, e na verdade, poucas pessoas querem essa vida.
Não quero vender um discurso que “tudo é possível, só basta querer”, mas quero mostrar que viajar não é apenas hotel caro, comida boa e vinho que custa um rim. Há viagens e viagens! e se planejar ajuda muito!
Quem são as minas pela estrada?
Todas as viajantes! Para me aproximar mais das minhas leitoras e mostrar que diferentes tipos de mulher podem viajar sozinhas criei a série Minas pela Estrada. Aqui vou compartilhar história de outras mulheres viajantes. Hoje o maravilhoso conto é da Alice Perácio, do Creative Roads, sobre uma experiência dela no Rio Grande do Norte em 2018.

“É como se o tempo girasse à velocidade das pás daquelas torres…”
O som é do silêncio, que preenche e retumba em mente, apesar de que às vezes parece um zumbido… Não me incomoda.
O zumbido é como o “som” do Universo, e é só jogar no YouTube se quiser sentir a experiência intergaláctica da qual me refiro. Imagina só, o som das torres humanas confundidos com o que ecoa aqui e sei lá mais onde ao infinito… Eu já nem sei aonde essas palavras vão me levar – quem sabe aos aneis que circulam velozes em torno de Saturno.
O sol tomava os meus olhos. Ele brilhava tão forte que, por momentos, eu não podia enxergar. Aquela luz que quase me cegava, trazia consigo um cansaço – aquele de quem teve um dia bom… Cansaço de água, sabe? O fundo lamacento da lagoa grudava nos meus pés. Um refresco, um alento e gosto de sal nos lábios. Uma dose de caipirinha com um pouco mais de açúcar seria o ideal.
A água escorre pelos cabelos, pinga sobre a areia… Todas aquelas gotas me parecem estrelas que a Mãe Terra agora abraça, e então elas são absorvidas pelo ciclo que continua. Plantinhas irão crescer, minúsculos insetos irão matar a sede e as nuvens vão se encher de gotículas.

O dia está lindo, a natureza mais bela do que nunca! Pequenas ondas perfeitas verde-água me tomam o olhar num tom de fascínio. A estrada é a areia, e o mar às vezes teima em ir de encontro às rodas do veículo. Tudo bem, ele é o dono de tudo. O tempo fecha, o céu cinza escuro. A água me parece ainda mais límpida… Gosto de parar e admirar a chegada da tempestade – um mantra.
Eis que vou de encontro a um farol vermelho e branco. Já não consigo mais interagir, a paisagem à minha volta toma absolutamente toda a minha atenção. Ondas brutas se chocam contra as rochas e respigam suaves sobre os meus cílios e a lente da câmera. Pernas já doloridas, caminhadas em dunas, barriga cheia… Descanso na rede para voltar a pular ondas. O mar se agita, mas a água morna nos prende.
E as pás das torres continuam girando… O tempo passa ao ritmo delas. O zumbido elétrico universal agita as minhas partículas, assim como quando o sol toca a pele. E os raios da tempestade continuam a dançar distantes…

Viver do que ama
Alice, 24 anos, nasceu em Belo Horizonte e cresceu no interior do estado de Minas Gerais. Apaixonada em aprender coisas novas, viajar, cantar, escrever, fazer arte e natureza, decidiu seguir o sonho de viver de alguns projetos pessoais, dedicando todas suas energia à eles.
“Passei por momentos cercados de muitas dúvidas, dor e angústia até tomar essa decisão. Eu nunca me encaixei no estilo de vida mais tradicional e gostaria de trabalhar de forma mais livre e independente. No momento estou em transição para viver de arte”.

E onde a estrada entra nisso?
No final de 2018 Alice criou o Projeto Nômade, atual Creative Roads, e desde então vende suas artes enquanto viaja. Como o projeto está em transição, Alice têm sua base, inclusive já viveu em diferentes lugares do Brasil, mas enquanto se movimento, leva seu trabalho consigo e espalha arte pelas estradas.
“O meu foco no @creativeroads são aquarelas de montanhas, mapas, galáxias e planetas – puramente inspirada no Universo! Faço as minhas próprias tintas de aquarela com pedras e terra coletadas, já que venho buscando viver uma vida mais sustentável e minimalista e sinto a necessidade de me manter próxima da natureza.”
A arte está presente em tudo
Alice é uma artista nata. Fotógrafa trabalha com design, ilustração e ainda por cima canta! Alice também pretende escrever livros (por favor, escreva!!) Para acompanhar mais sobre suas histórias, viagens, projetos e muiita arte é só entrar no instagram @aliceperacio
E bora para estrada, manas ! <3